Dando um trato nela

Eu uso muito ferramentas manuais quando estou trabalhando a madeira. Embora seja possível fazer isso em uma mesa, é muito mais fácil, rápido e eficiente fazer em uma bancada de marceneiro com morsas para se fixar a madeira a ser trabalhada.

Minha bancada foi feita há muito tempo e apesar de usá-la muito, havia dado pouca manutenção. Além disso a havia deixado incompleta, faltando uma morsa. Resolvi dar uma reforma geral e fazer a morsa que faltava.

Tempos atrás já escrevi poesias, tive uma época de escrever muito, mas ultimamente escrevo quase nada. Por uma coincidência da vida enquanto eu dava um trato na bancada as palavras e ideias foram surgindo à mente. Não sei se pode ser chamada de poesia, prefiro chamar de uma brincadeira com as palavras.

Como se trata de uma brincadeira, sugiro ler a poesia toda antes e, depois, voltar relendo e clicando nos links para as fotos.

Dando um trato nela

Anos e mais anos de uso e abuso
Servindo calada. Carinhos? Nenhum!
Tão cheia de marcas, cortes e pancadas.
Cuidados? Não tive em momento algum!

Desde seu início
Só ganha porrada,
Ficou até mesmo
De costa arqueada.

Nunca tive pena
De usar e abusar.
A surra foi tanta,
Deixou a coitada
'Té de perna bamba!

Resquício passados
De uso intenso,
Viscoso, melado,
Leitoso e grudento.
Tal qual uma amante,
Por sobre seu dorso
Tem até meu sangue.

Mas chegou o dia
De lhe dar um trato!
Pegar com jeitinho,
Cuidar de você,
Só nós dois, sozinhos!

Com muita vontade
A pego de jeito,
Desmonto seu corpo,
A viro do avesso.

Sem folga nenhuma
Trabalho na frente,
Ajusto, alinho
Seu novo mordente.

Depois de um tempo
Abro suas pernas,
Encunho as furas,
Encaixo a travessa.

Depois de dois dias
De intenso trabalho
A vejo de novo
Firme e no esquadro.

Ao vê-la de novo
Firme e retinha,
Não tem outro jeito,
Garlopo em cima!

Depois a aliso,
Esfrego, esfolio,
Dou banho de óleo.
Enfim eu sorrio!

Agora está pronta,
P'ra mais alguns anos
De muito serviço.

Mais forte e mais reta,
Bonita e tratada.
Essa é a sina
Da minha bancada.

À beira do rio Aquidauana, 18/09/2010

7 comentários:

  1. Gostei da bancada cantada em verso!

    Parabéns!

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  2. Olá Tomazelli,

    Muito bom seu trabalho. Que óleo você passa na bancada ? É melhor óleo ou verniz ou seladora ?

    Abraços
    Marcos

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    1. Marcão, eu não gosto de nada que forme filme sobre a bancada, isso já exclui seladora e verniz. Uso apenas óleo, eu prefiro o óleo de tungue puro, pois seca rápido (24 h entre demãos), não forma filme e ainda é relativamente resistente à água. O de linhaça polimerizado (ou fervido), desde que seja de boa procedência, também funciona, mas demora mais para secar e não tem quase nenhuma resistência à água.

      Abraço!

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  3. Uma bela demonstração de carinho e amor a uma arte.

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  4. Cara, é sua a autoria da poesia? queria citar ela com o crédito do autor.

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    1. É minha, se não fosse, sem sombra de duvidas, teria citado o autor. Pode publicar (sem fins lucrativos) me citando como autor e, se possível, colocando um link pro blog. :)

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    2. É minha, se não fosse, sem sombra de duvidas, teria citado o autor. Pode publicar (sem fins lucrativos) me citando como autor e, se possível, colocando um link pro blog. :)

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