Espigas e seu uso (2/2)

Agora vamos ver os tipos de espigas mais usados em marcenaria.

Espiga e fura cega (Blind mortise and tenon)

Blind mortise and tenon
Figura 10: Espiga e fura cega.

É a mais comum das espigas, onde a fura não atravessa para o outro lado, por isso chamada de espiga cega. Também é chamada simplesmente de espiga.


Espiga haunched (Haunched mortise and tenon)

Esse é um tipo de espiga usado sempre na borda das peças. Se fôssemos fazer uma espiga normal no canto da peça, ficaria uma quantidade pequena de madeira no topo da peça da fura. Com pouca madeira no topo (Fig. 11) , qualquer esforço faria rachar o topo da peça da fura.

Figura 11: Encaixe fraco: a fura está muito perto do topo da peça.

Uma alternativa é recuar a espiga, deixando um pouco mais de madeira no topo da peça da fura (Fig. 12). Porém, abaixando a espiga diminuímos sua altura e diminuímos junto a resistência contra torção.

Figura 12: Espiga recuada: dessa forma a fura não fica perto demais da borda.



Espigas e seu uso (1/2)

Esse artigo vai para aqueles que gostam de marcenaria. É um pequeno artigo cujo conteúdo é muito comum de ser encontrado em livros e revistas em inglês. Mas, como toda informação sobre marcenaria, é algo raramente encontrado em português.

A espiga e fura é um dos métodos mais usados para unir peças de madeira, é também um dos mais antigos, sendo encontrado em sarcófagos do Egito. Primeiro vamos ver a nomenclatura das partes do encaixe. Como não tenho nenhuma literatura em português, traduzi livremente os termos usados em inglês.

desenho de uma espiga
Figura 1: As partes de uma espiga.
A regra básica para as medidas de uma espiga é de que a espessura dela deve ter em torno de um terço da espessura da peça da fura. Se a espiga for mais fina, ficará fraca; enquanto que se a espiga for mais grossa, as paredes laterais da fura ficarão fracas. Na prática é uma questão de escolher a ferramenta que mais se aproxime dessa medida de um terço: caso a fura seja feita a mão, o formão com largura mais próxima; caso seja feita a máquina, a fresa ou broca mais próxima.

O comprimento da espiga tem uma regra básica de ser pelo menos cinco vezes a espessura da espiga. Na prática, quanto mais comprida a espiga mais resistência dará. Então, caso a espiga não seja vazada, o ideal é fazer a fura o mais profunda possível, deixando ainda uma sobra razoável de madeira do lado oposto a fura, para que não fique muito fraca e quebre facilmente.

espigas
Figura 2: Espiga dupla à esquerda e espiga central com haunchs  à direita.
Já a altura da espiga é um pouco mais complicado. Geralmente ela não deve ser muito maior do que o comprimento, pois caso fosse iria dar pouca resistência contra flexão. Uma alternativa caso a espiga seja muito alta, é dividi-la em duas ou mais. Ou fazer uma espiga haunched, com a espiga central comprida, e os haunchs em cima e em baixo, que darão uma maior resistência contra torção, conforme a figura 2.

Lembrando que essas regras são um ponto de partida, não uma verdade absoluta. Cabe ao marceneiro decidir as medidas finais. Alguns projetos sofrem mais forças em um sentido do que em outro, assim o marceneiro pode e deve estudar seu projeto, decidindo as medidas ideais da espiga para dar mais resistência nesse ou naquele sentido.


Caixinha e Luminária

Uma amiga iria fazer aniversário e resolvi fazer algo para presenteá-la. Inicialmente fiz uma caixinha.

caixinha pronta
A madeira mais clara dos pés é louro-freijó, enquanto a madeira alaranjada é peroba-rosa de demolição.

vista explodida
Um desenho da caixinha mostrando todos encaixes.

Resolvi fazer uma luminária no mesmo estilo para fazer conjunto com a caixinha.  Algumas fotos do processo:

aplainando madeira
Aplainando uma velha tábua de peroba-rosa que já foi parte de uma casa, depois foi andaime, e agora virou caixinha e luminária. Uma madeira que parece velha, sem vida, mostra sua cara após umas passadas de plaina. Essa plaina é uma garlopa, plaina grande com cerca de 50 cm de comprimento usada para deixar a madeira perfeitamente plana.

Uma mesinha de centro

A pedido de um amigo fiz uma mesinha de centro, com cerca de 50 x 80 cm. A madeira escolhida é louro-freijó e peroba-rosa de demolição.

As espigas foram feitas usando um serrote japonês, uma ferramenta ótima para cortes de precisão.

A peroba-rosa é de demolição, eram ponteiras do telhado de uma casa.

Depois de aparelhada e serrada nas medidas, a peroba ficou assim. Essas ripas vão compor o painel central do tampo da mesinha.

O quadro da mesinha é feito em catuaba, uma madeira parecida com louro-freijó. Os encaixes nos cantos são em meia esquadria com espiga vazada, um encaixe muito utilizado em móveis chineses.